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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

resenha CONVITE AO DESESPERO

DE Esdras do Nascimento

uma leitura simples e agradavel, bem atual, gostei e recomendo, ja o li duas vezes.
é escrito numa linguagem bem simples, de facil entendimento.

No noticiário atual, eles se chamam sem-terra; ontem eram flagelados; anteontem, retirantes; trasanteontem... bem, é uma longa história. Mudam os nomes, permanece a calamidade. Nesta sua primeira obra (não a primeira publicada), o hoje consagrado romancista Esdras do Nascimento recria, com a simplicidade de um clássico grego, a tragédia mais clamorosa no Nordeste, agora ampliada para todo o país. O drama da terra.
À cidadezinha de Mandacaru chega um jovem promotor, para cumprir a etapa inicial de uma carreira oficial que deverá conduzi-lo aos mais elevados postos. O moço sonha alto: pensa especializar-se em Direito Internacional. Esquecido de Deus, o lugarejo que lhe destinaram não tem grandes alegrias ou dramas; quer dizer, não os tem grandiosos, em sua tediosa vidinha mansa, parada, de província.
O livro praticamente começa com um assassinato por questão de "honra" – honra de uma donzela, claro. É a década de 50, final de uma era, e a diversão dos ricos locais são os picantes fuxicos sobre as "safadezas" das apetitosas moçoilas em flor. Moderninhas umas, de calças cumpridas, fumando em público e bebendo Cuba Libre e Samba em Berlim, ouvindo discos em eletrolas, banhando-se nuas com amigos em cachoeiras; pudicas umas ou santarronas outras, mas nem por isso menos desejáveis ou acessíveis – elas são o pivô de escândalos, noivados feitos e desfeitos, assassinatos, suicídios.
Nesse oásis de ócio no meio do sertão, em que rapazes vão buscar seus anéis de doutor em faculdades do Recife e Fortaleza, nada faz esperar a explosão que se prepara. É verdade que, desde o início, surgem, nas estações de trem, acabrunhados sertanejos, homens de brio, lançados na vergonha da mendicância; mas por isso parece apenas cor local. E então desaba a seca, o secular flagelo do Nordeste – secular porque, do mesmo céu que despede fogo e enxofre sobre os pobres, chove maná para barões feudais, que se cevam nas gordas verbas de socorro enviadas pela União, eternizando seu poder.
Com a seca vem a fome; surge um líder natural; o governo federal constrói um açude, como meio de dar empregos; arrebanham-se os miseráveis para serem mais explorados ainda; entra o Partidão; murmura-se sobre revolução – e aí, naturalmente, é a ocupação militar, por tropas da polícia, com a arrogância e brutalidade de sempre, para manter a "ordem" dos senhores. Está armado o cenário para o confronto.
Nada mudou, além do alastramento da sem-vergonhice e da onipresença dos meios de comunicação, que agora dão, pelo simples fato de mostrá-los, alguma força aos deserdados da sorte. Naquele tempo, não tão distante, esses desgraçados sofriam e morriam anonimamente; além de sem-terra, eram também sem-voz. A não ser, claro, a de escritores indignados como Esdras do Nascimento, que logo de início vem juntar-se a Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Américo de Almeida, vigorosos cronistas do vicioso círculo da seca. Um pequeno (em tamanho) clássico, ainda por cima atualíssimo

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

resenha CONVITE AO DESESPERO

Postado por Vanessa Almeida às 06:32
DE Esdras do Nascimento

uma leitura simples e agradavel, bem atual, gostei e recomendo, ja o li duas vezes.
é escrito numa linguagem bem simples, de facil entendimento.

No noticiário atual, eles se chamam sem-terra; ontem eram flagelados; anteontem, retirantes; trasanteontem... bem, é uma longa história. Mudam os nomes, permanece a calamidade. Nesta sua primeira obra (não a primeira publicada), o hoje consagrado romancista Esdras do Nascimento recria, com a simplicidade de um clássico grego, a tragédia mais clamorosa no Nordeste, agora ampliada para todo o país. O drama da terra.
À cidadezinha de Mandacaru chega um jovem promotor, para cumprir a etapa inicial de uma carreira oficial que deverá conduzi-lo aos mais elevados postos. O moço sonha alto: pensa especializar-se em Direito Internacional. Esquecido de Deus, o lugarejo que lhe destinaram não tem grandes alegrias ou dramas; quer dizer, não os tem grandiosos, em sua tediosa vidinha mansa, parada, de província.
O livro praticamente começa com um assassinato por questão de "honra" – honra de uma donzela, claro. É a década de 50, final de uma era, e a diversão dos ricos locais são os picantes fuxicos sobre as "safadezas" das apetitosas moçoilas em flor. Moderninhas umas, de calças cumpridas, fumando em público e bebendo Cuba Libre e Samba em Berlim, ouvindo discos em eletrolas, banhando-se nuas com amigos em cachoeiras; pudicas umas ou santarronas outras, mas nem por isso menos desejáveis ou acessíveis – elas são o pivô de escândalos, noivados feitos e desfeitos, assassinatos, suicídios.
Nesse oásis de ócio no meio do sertão, em que rapazes vão buscar seus anéis de doutor em faculdades do Recife e Fortaleza, nada faz esperar a explosão que se prepara. É verdade que, desde o início, surgem, nas estações de trem, acabrunhados sertanejos, homens de brio, lançados na vergonha da mendicância; mas por isso parece apenas cor local. E então desaba a seca, o secular flagelo do Nordeste – secular porque, do mesmo céu que despede fogo e enxofre sobre os pobres, chove maná para barões feudais, que se cevam nas gordas verbas de socorro enviadas pela União, eternizando seu poder.
Com a seca vem a fome; surge um líder natural; o governo federal constrói um açude, como meio de dar empregos; arrebanham-se os miseráveis para serem mais explorados ainda; entra o Partidão; murmura-se sobre revolução – e aí, naturalmente, é a ocupação militar, por tropas da polícia, com a arrogância e brutalidade de sempre, para manter a "ordem" dos senhores. Está armado o cenário para o confronto.
Nada mudou, além do alastramento da sem-vergonhice e da onipresença dos meios de comunicação, que agora dão, pelo simples fato de mostrá-los, alguma força aos deserdados da sorte. Naquele tempo, não tão distante, esses desgraçados sofriam e morriam anonimamente; além de sem-terra, eram também sem-voz. A não ser, claro, a de escritores indignados como Esdras do Nascimento, que logo de início vem juntar-se a Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Américo de Almeida, vigorosos cronistas do vicioso círculo da seca. Um pequeno (em tamanho) clássico, ainda por cima atualíssimo

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