
Seu braço ostentava o aço dos clãs e em seu peito havia um espaço deixado pelo coração selvagem ancestral. Foi à procura do antigo sentido de sua vida que voltou para sua terra natal, o Norte, de poucas cores. Trouxe com ele um presente a um amigo, seu mentor, mas sem que imaginasse, acabava por trazer consigo o início de uma desconhecida profecia. E tudo começou...
A Fome de Íbus é o título desta saga, cujo primeiro livro se inicia com o Livro do Dentes-de-Sabre. É uma obra de ficção fantástica, com toques do gótico de Lovecraft e Poe, com o mundo de fantasia presente no Silmarillion de Tolkien, narradas com energia semelhante ao de Stephen King, onde batalhas épicas são narradas com os detalhes impiedosos de um Bernard Conwell. É a saga de um homem, forte por natureza, mas cujos limites são claros e evidentes quanto ao mundo além das fronteiras do Norte gelado, onde seu povo vivia em quase isolamento.
É a história de um homem que desobedece às leis de seu povo e se liberta de seus próprios limites para desafiar o desconhecido. Mas esta, que poderia ser a história de tantos outros livros de aventuras, é passado para Karizem.
O livro se inicia exatamente no ponto em que o bárbaro de Ith já fez sua escolha, foi ao mundo e venceu. O livro do Dentes-de-Sabre, relata o retorno deste homem, de muitos tesouros e glórias, ao povo que amava, que ainda residia no passado das tradições tribais. É a história de um homem que teve o braço erguido em batalha, segurando o cabo de uma espada, mas que não pode fazer o mesmo contra os olhares cheios de consternação de seu próprio povo, que o recrimina. Karizem dos Bittur já não é mais um deles. Aos olhos do povo de Ith, Karizem abandonou sua terra quando deixou a tundra do norte. Desobedeceu as regras, e deve pagar por isso.
Este primeiro livro da saga é, em parte, a história que relata as dificuldades de um homem confuso que decidiu dar um passo atrás, que foi ao mundo e depois viu que o que poderia ser o desejo do jovem, não lhe preencheu a alma como imaginava. É o amadurecimento de um rapaz que se torna homem ao custo de muita dor. E o passo atrás, além de se mostrar, muitas vezes, difícil, pode se mostrar impossível.
Por outro lado, é uma aventura sombria e misteriosa. Alguém o espreitava das sombras e, quer quisesse ou não, teria que seguir o caminho para ele traçado pelas brumas do arcano mágico. As respostas não vêm das runas, e não se encontram próximas a ele, e um longo caminho deveria ser seguido nessa busca inevitável. Seria o passo atrás, nada mais que mais um passo além?
Ith, sua cidade natal, não o quer e ele não se acostuma mais a ser mal-querido. Seu coração endureceu, não há mais lágrimas em seu peito, e seu orgulho é o de um conquistador de povos, aguerrido, cujo grito de combate é reconhecido pelos abutres em banqueteante revoada. O mundo o espera de volta, de mandíbulas abertas, salivando baba viscosa e cheia de fome. A profecia o aguarda... e outros vão com ele, desta vez.
Acompanhado, inicialmente, do velho mentor (um mago misterioso e cheio de sabedoria cujo poder arcano fora sufocado e quase perdido) e um novo jovem guerreiro, filho de um dos outros clãs do Norte, que misteriosamente possuía algumas das respostas ao enigma a que Karizem teria de desvendar, acaba por encontrar outros seres que seriam as peças fundamentais no desenrolar dos fatos: um anão misterioso, que secretamente é o enviado de forças poderosas dentre as antigas montanhas do mundo; um elfo, que revela-se o portador de um passado obscuro onde velhas armas mágicas voltam do esquecimento; e finalmente um mendigo errante, um cavaleiro de uma ordem sagrada que traz em si o real poder da escuridão, interessando-se, acima de tudo, em usar o guerreiro bárbaro, conhecido como Dentes-de-Sabre, pra seus próprios interesses.
Em, A Fome de Íbus – Livro do Dentes-de-Sabre, temos uma história de aventura, detalhada e bem estruturada, recheada de paisagens maravilhosas de um mundo frio, coberto pelo manto de gelo do Norte. Possui descrições precisas e personagens redondos, cheios de individualidade, compondo, às vezes, clichês desejados e sempre bem dosados, atendendo aos gostos do leitor exigente e saudoso de antigas sagas. Feito para jovens e adultos, que serão certamente apreciados, por exemplo, pelos aficionados por Harry Potter, de J. K. Rowling (principalmente nos dois últimos volumes, quando a saga do bruxinho inglês torna-se mais soturna) ou pela série Crepúsculo, de Stephenie Meyer (mas, ao invés de uma história de vampiros, teremos, talvez, uma de caçadores de vampiros. Aliás, o que Karizem caça é bem pior!).
No livro, as coisas não correm como o planejado para o grupo liderado por Karizem, ao deixar Ith e seu povo. Surgem as garras dos vampiros Cursaks, que se interpõe no caminho dos aventureiros (com resultados talvez fatais para alguns), e apesar de todos os motivos que deveriam mantê-los afastados, devem então seguir para a cidadela amaldiçoada de Tull Saitanes, onde os maiores bruxos necromantes do mundo espreitam, à procura de mais poder. E aqui não há bruxos mirins bonzinhos!
Sua busca revela as pistas para os enigmas que a profecia exige como solução. Inimigos devem ser destruídos e seu destino leva de encontro ao verdadeiro mal que assola os tempos sombrios em que vivem. Cada um tem seu papel a desempenhar na esfera de existência em que se encontram, manipulados pelas mais poderosas forças arcanas: A Fome de Íbus, que a tudo destrói e tudo traga para si própria.
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