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domingo, 3 de abril de 2011

Nas margens do rio Piedra, Sentei e chorei

Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei. Conta a lenda que tudo que cai nas águas deste rio - as folhas, os insetos as penas das aves - se transforma nas pedras do seu leito. Ah, quem dera eu pudessa arrancar o coração do meu peito e atirá-lo na correnteza, e então não haveria mais dor, nem saudade, nem lembranças.
Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei. O frio do inverno fez com que eu sentisse as lágrimas no rosto, e elas se misturaram com as águas geladas que correm diante de mim. Em alguma lugar este rio se junta com outro, depois com outro, até que - distante dos meus olhos e do meu coração - todas estas águas se confundem com o mar. 
Que as minhas lágrimas corram assim para bem longe, para que meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele. Que minhas lágrimas corram para bem longe, e então eu esquecerei o rio Piedra, o mosteiro, a igreja nos Pireneus, a bruma, os caminhos que percorremos juntos. 
Eu esquecerei as estradas, as montanhas e os campos de meus sonhos - sonhos que eram meus, e que eu não conhecia. 
Eu me lembro do meu instante mágico, daquele momento em que um “sim” ou um “não” pode mudar toda a nossa existência. Parece ter acontecido há tanto tempo, e - no entanto - faz apenas uma semana que reencontrei meu amado e o perdi. 
Nas margens do rio Piedra escrevi esta história. As mãos ficavam geladas, as pernas entorpecidas pela posição, e eu precisava parar a todo instante.
- Procure viver. Lembrar é para os mais velhos - dizia ele.
Talvez o amor nos faça envelhecer antes da hora, e nos torna jovens quando a juventude passa. Mas como não recordar aqueles momentos? Por isso escrevia, para transformar a tristeza em saudade, a solidão em lembranças. Para que, quando acabasse de contar a mim mesma esta história, eu a pudesse jogar no Piedra - assim me dissera a mulher que me acolheu. Então - lembrando as palavras de uma santa - as água poderiam apagar o que o fogo escreveu. 
Todas as histórias de amor são iguais. 

- Paulo Coelho, “Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei” - 

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domingo, 3 de abril de 2011

Nas margens do rio Piedra, Sentei e chorei

Postado por Vanessa Almeida às 07:24
Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei. Conta a lenda que tudo que cai nas águas deste rio - as folhas, os insetos as penas das aves - se transforma nas pedras do seu leito. Ah, quem dera eu pudessa arrancar o coração do meu peito e atirá-lo na correnteza, e então não haveria mais dor, nem saudade, nem lembranças.
Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei. O frio do inverno fez com que eu sentisse as lágrimas no rosto, e elas se misturaram com as águas geladas que correm diante de mim. Em alguma lugar este rio se junta com outro, depois com outro, até que - distante dos meus olhos e do meu coração - todas estas águas se confundem com o mar. 
Que as minhas lágrimas corram assim para bem longe, para que meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele. Que minhas lágrimas corram para bem longe, e então eu esquecerei o rio Piedra, o mosteiro, a igreja nos Pireneus, a bruma, os caminhos que percorremos juntos. 
Eu esquecerei as estradas, as montanhas e os campos de meus sonhos - sonhos que eram meus, e que eu não conhecia. 
Eu me lembro do meu instante mágico, daquele momento em que um “sim” ou um “não” pode mudar toda a nossa existência. Parece ter acontecido há tanto tempo, e - no entanto - faz apenas uma semana que reencontrei meu amado e o perdi. 
Nas margens do rio Piedra escrevi esta história. As mãos ficavam geladas, as pernas entorpecidas pela posição, e eu precisava parar a todo instante.
- Procure viver. Lembrar é para os mais velhos - dizia ele.
Talvez o amor nos faça envelhecer antes da hora, e nos torna jovens quando a juventude passa. Mas como não recordar aqueles momentos? Por isso escrevia, para transformar a tristeza em saudade, a solidão em lembranças. Para que, quando acabasse de contar a mim mesma esta história, eu a pudesse jogar no Piedra - assim me dissera a mulher que me acolheu. Então - lembrando as palavras de uma santa - as água poderiam apagar o que o fogo escreveu. 
Todas as histórias de amor são iguais. 

- Paulo Coelho, “Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei” - 

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